Para o Legislativo gaúcho, inovação é a palavra da vez. Um passo histórico nesse sentido foi dado nesta quarta-feira, 7 de fevereiro, com o lançamento da Frente Parlamentar em Apoio ao Cultivo Sem Solo – Hidroponia no RS. A iniciativa é inédita no Brasil e, a partir dos exemplos gerados, poderá ser replicada nos demais estados da Federação. Idealizada pela Plataforma Hidroponia, a frente de trabalho foi assinada por 28 deputados estaduais, sendo o seu proponente Issur Koch (PP).
Na solenidade, que aconteceu na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, temas cruciais que circundam a pauta hidropônica foram abordados, como a segurança alimentar, a preservação de recursos naturais, a otimização de espaços, a geração de empregos e a necessidade de qualificação profissional, entre muitos outros.
Transformação pelo conhecimento
O CEO da Plataforma Hidroponia, Roberto Luis Lange, enfatizou o pioneirismo do Rio Grande do Sul e disse que o respaldo do Parlamento permitirá a criação de ações perenes. “O segmento do cultivo sem solo sempre questionou a sua importância e o seu reconhecimento no ambiente público. Hoje, temos a resposta para essa pergunta. Fomos acolhidos e a porta que se abriu é na Casa dos gaúchos. Esse será um ambiente para diferentes ações, com todos agregando forças em favor da segurança alimentar da sociedade”, apontou.

Lange aproveitou para relembrar a missão da Plataforma Hidroponia, que é de “reunir os agentes da cadeia, propondo uma articulação proativa, abrindo frentes e reunindo informações, como um hub articulador e facilitador da integração de pesquisadores, produtores, fornecedores, legisladores e instituições”. Nesta construção, cada ator assume seu papel, tendo a informação como base para suas ações. Apesar de atuar pelo desenvolvimento da Hidroponia, o CEO destacou que todos os sistemas de produção têm o seu valor, não cabendo comparativos entre eles. “Cada um cumpre o seu papel, gerando cidadania, renda e alimento”, acrescentou.
Hidroponia é sinônimo de inovação
O deputado Issur Koch não acredita que o cultivo sem solo seja apenas uma alternativa moderna de cultivo, mas sim um catalisador para o aumento da eficiência agrícola, a conservação dos recursos naturais e a segurança alimentar. “A Hidroponia tem compromisso com a inovação, na medida em que incentiva a pesquisa, o desenvolvimento tecnológico e a implementação das melhores práticas, o que pode posicionar o Brasil, futuramente, como líder na adoção e promoção desse sistema”, afirmou.

O parlamentar também enfatizou o pioneirismo da iniciativa entre todas as Assembleias Legislativas do país. “Ela emerge como um marco crucial em nossa missão com o desenvolvimento sustentável e a inovação na agricultura. Esse é um passo importante na promoção de práticas mais eficientes”, disse. Ao final do evento, informou que apoiará a Plataforma Hidroponia na articulação, junto aos 26 estados da Federação e ao Distrito Federal, para a instituição de frentes parlamentares de mesmo tema por todo o Brasil.
Qualidade de trabalho e de vida
Na solenidade, os atributos do cultivo sem solo foram citados por pesquisadores da área, consultores da Plataforma Hidroponia. Jorge Luiz Barcelos Oliveira, coordenador do LabHidro – Laboratório de Hidroponia da Universidade Federal de Santa Catarina e idealizador do Encontro Brasileiro de Hidroponia, contou que vem de uma família de produtores rurais, e que seu interesse pela área surgiu na busca por melhorar as condições de trabalho de seu pai e de tantos outros produtores agrícolas. “Fundei o LabHidro em 1998 e sou um difusor da Hidroponia desde então, me dedicando a divulgar o sistema para o Brasil inteiro. Acredito que o cultivo sem solo é uma grande oportunidade para o agricultor ter um trabalho menos pesado, em um lugar mais limpo e produzindo algo também mais limpo, saudável e diferente do tradicional”, apontou.

Conhecimento técnico é uma demanda do setor
Fazendo um apanhado histórico da Hidroponia no Brasil, o diretor da consultoria Hidroponic, Adriano Delazeri, recordou da época em que falar sobre produção sem solo gerava estranhamento entre técnicos, extensionistas rurais e agrônomos. Na década de 1990, no entanto, o país via suas primeiras publicações sobre o tema. “Eu vejo essa Frente Parlamentar como um motivador para que se abra mais espaço, dentro das escolas agrícolas e das universidades, para formarmos técnicos que tenham experiência nesse sistema de produção, para que atendam a esse conjunto de produtores tão importante”, disse. Delazeri também aposta na iniciativa para que cresça o interesse empresarial em investimentos em pesquisa, fazendo com que sejam criados novos produtos e serviços para atender à cadeia.

O pesquisador ainda citou a Revista Hidroponia, criada em 2010 pela Plataforma Hidroponia e considerada a primeira publicação com abrangência nacional a tratar exclusivamente sobre a temática. “A Revista Hidroponia, com a qual eu colaboro, tem se prestado a difundir o conhecimento e fazer uma conexão entre consultores, empresas, fornecedores, consumidores e produtores, que procuram nela informação para entender o que é o produto hidropônico”, afirmou, realçando a relevância da publicação.
Exemplo a ser seguido
O presidente da Ansub – Associação Nacional de Substratos para Plantas, Claudimar Sidnei Fior, acredita que, cada vez mais, produtores precisarão cultivar em espaços menores e onde, há pouco tempo, era praticamente impossível, como
centros urbanos ou ambientes totalmente fechados – subsolos, estacionamentos, interior de lojas, etc. “E para isso, nós precisamos do domínio do conhecimento”, disse, caracterizando como brilhante a iniciativa lançada. “Ela é pioneira e ainda será usada como exemplo para muitas outras políticas que surgirem nesse sentido. Parabéns a todos os envolvidos”, elogiou. O deputado estadual Sergio Peres (Republicanos), além de representantes de entidades e fornecedores, produtores e acadêmicos do setor hidropônico, também prestigiaram o evento.

Hidroponia no Brasil
De acordo com o Anuário Brasil Hidroponia, a estimativa é de que a área ocupada com estufas hidropônicas cresça cerca de 30% ao ano no país. Dentre as vantagens, destaca-se o baixo consumo de água, que pode ser até 95% menor do que na agricultura convencional, dependendo do manejo. As culturas mais difundidas nessa técnica são de folhosas e tomate, mas produtores também cultivam hortaliças, vegetais, frutos, flores, mudas de arbóreas e forrageiras para alimentação animal. No sul do Brasil, onde a maior dificuldade são as baixas temperaturas, o cultivo sem solo ganha espaço principalmente porque o plantio fica protegido das variações climáticas como chuva, geada e vento.
