O que muda no Rio Grande do Sul com a criação da Frente Parlamentar em Apoio ao Cultivo Sem Solo – Hidroponia?

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A estiagem provocou queda de 5,1% no Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul em 2022, de acordo com o governo do Estado. Já em 2023, o cenário foi o oposto: o fenômeno El Niño trouxe longos períodos de chuva abundante ao Sul do país. As condições climáticas extremas, infelizmente, não são os únicos desafios enfrentados pelos agricultores gaúchos. Apesar de variarem de acordo com a região e tipo de cultivo, adversidades como propagação de pragas, altos custos de produção, falta de conhecimento técnico e baixa produtividade, entre outras, são comuns a todo tipo de cultivo. No entanto, em breve o Rio Grande do Sul ganhará uma política que pode representar uma mudança significativa nesse cenário.

Será lançada, nesta semana, a Frente Parlamentar em Apoio ao Cultivo Sem Solo – Hidroponia no RS, presidida por Issur Koch (PP) e assinada por outros 27 deputados estaduais. Resultado de uma Cooperação Tecnológica entre a Plataforma Hidroponia, a Assembleia Legislativa do RS e o Gabinete do Deputado Issur Koch, a iniciativa é pioneira no Brasil no setor hidropônico e poderá servir como exemplo para ações a nível nacional. Dessa forma, muitos avanços podem ser esperados no setor a partir dessa Frente Parlamentar.

Dentre os benefícios da produção hidropônica, destaca-se o baixo consumo de água, que pode ser até 95% menor do que na agricultura convencional, dependendo do manejo; a proteção contra as adversidades climáticas, já que as plantas se desenvolvem em estufas; a possibilidade de uso de defensivos agrícolas orgânicos; a redução dos ciclos de produção, resultando em um aumento de produtividade; e a excelente qualidade nutritiva, uma vez que os produtos gerados são mais higiênicos, por não terem contato com o solo, e permanecem frescos por mais tempo, pois são colhidos com as raízes.

Reconhecimento merecido

O CEO da Plataforma Hidroponia, Roberto Luis Lange, aponta que a primeira resposta que o setor buscava diante do Poder Público era o reconhecimento de sua relevância para a produção agrícola gaúcha. Para ele, a efetivação da iniciativa tomada pelo Legislativo é uma resposta favorável. “Isso oferece para produtores, fornecedores e pesquisadores da cadeia uma referência de reconhecimento e de expectativa pelas contribuições que o segmento trará para a comunidade do Rio Grande do Sul. Consequentemente, por se tratar de uma ação pioneira, é um exemplo para o Brasil”, afirma, lembrando que a frente de trabalho atuará em todos os sistemas que não usam o solo para sustentação dos cultivares. “Também reconhecemos que todos os sistemas de produção têm o seu espaço e seu valor na agricultura gaúcha, e não concorrem entre si”, salienta.

O espaço de debate que será criado a partir desse primeiro passo também é destacado por Lange. “Poderemos criar um plano de boas práticas para a Hidroponia – a partir da liderança de pesquisadores e produtores -, além de planos de investimento, linhas de crédito e benefícios para fornecedores, como forma de estímulo para investimentos no setor do cultivo sem solo”, avalia. Ele ainda acredita que a Frente Parlamentar trará ao estado uma experiência de produção com mais tecnologia e inovação, e possibilitará a qualificação de mão de obra, a geração de empregos e o cultivo de alimentos com segurança alimentar. “Além disso, poderemos criar um fórum qualificado de debates sobre o uso adequado e racional dos recursos hídricos e teremos uma produção mais próxima ao consumidor, gerando qualidade e condições favoráveis de logística de entregas”, afirma.

Visibilidade que vem para agregar

Essencial ao sistema hidropônico, o substrato é o meio poroso utilizado no cultivo sem solo. Ele serve como suporte para as raízes das plantas, possibilitando seu acesso à água e aos nutrientes necessários para seu desenvolvimento. Ciente de sua utilidade para a produção nessa modalidade, a Plataforma Hidroponia tem como um de seus consultores o presidente da Associação Nacional de Substrato para Plantas (Ansub), Claudimar Sidnei Fior. Ele considera que a visibilidade que o segmento hidropônico receberá com a instituição da Frente Parlamentar é a principal mudança a ser observada. “Qualquer iniciativa para o setor, do ponto de vista político, é importante. Porque isso facilita a criação de políticas para o cultivo sem solo, seja por meio de legislação ou da criação de alguma certificação”, avalia.

Em sua perspectiva, a cada dia os produtores estão mais dependentes de ambientes que não são os convencionais. “Precisamos otimizar espaços, e o cultivo sem solo vem nesse sentido – de fazer com que, em pequenos espaços, consigamos produzir e agregar valor ao nosso produto”, indica.

A visibilidade também é importante, de acordo com Fior, para que o público leigo, que cada vez mais busca por alimentos saudáveis e de qualidade, conheça essa outra modalidade de produção. “Hoje, falamos muito no cultivo orgânico, e acredito que ainda existam outros métodos de plantio saudável, com o mínimo possível de defensivos. É o caso da nutrição vegetal, forma de fertilização que pode gerar produtos de excelente qualidade e muito benéficos à saúde”, considera.

Futuro é promissor

O agrônomo Adriano Delazeri, além de consultor da Plataforma Hidroponia, é pesquisador da Hidroponic, empresa que presta consultoria em sistemas hidropônicos. Ele explica que, atualmente, o Poder Público não faz diferenciação entre a produção hidropônica e a produção agrícola convencional, o que resulta em apenas duas formas de produção oficiais – a orgânica e a tradicional. “Por conta das particularidades técnicas, a Hidroponia não se enquadra na produção orgânica, mas de acordo com os sistemas hidropônicos que desenvolvi e com os produtores que acompanho, parte dos produtos hidropônicos é similar aos orgânicos em características e qualidade”, discorre.

Delazeri vê com otimismo o cenário da Hidroponia no Brasil, percebendo que a maioria das dificuldades tem sido superadas e a sociedade tem reconhecido a qualidade e as vantagens do consumo de hidropônicos. “Também observo o crescimento e a popularização consistente da técnica”, finaliza, destacando o perfil comunicativo, trabalhador, inventivo e empreendedor do produtor brasileiro, que contribui para uma visão positiva do futuro.

A criação da Frente Parlamentar em Apoio ao Cultivo Sem Solo – Hidroponia no RS pode se estabelecer como uma solução viável para uma produção agrícola mais sustentável, econômica e saudável, transformando o futuro da agricultura no Rio Grande do Sul e servindo como exemplo para outros estados brasileiros.

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