Projeto está sendo desenvolvido pela Cooperativa Equilibrium em Piracaia, no interior de São Paulo
Piracaia é um pequeno município no interior de São Paulo, com aproxi-madamente 27,4 mil habitantes. Seu nome é de origem tupi e significa “peixe assado”, por meio da junção de pirá e kaîa. Nada mais apropriado para sediar o Ecopolo Equilibrium, que tem como um dos principais projetos a construção de um sistema de Aquaponia, que é a criação de peixes integrada ao cultivo de plantas sem o uso de solo. De forma simbiótica, as plantas usam as sobras e os excretos dos peixes como alimento, limpando novamente a água para os animais.

O projeto não é apenas uma ecovila e nem um condomínio fechado, conforme o CEO da Aquaponia Equilibrium, o pesquisador Wagner Annunciato. “Tratase de um espaço planejado de residência e produção, ecologicamente correto, onde residência, trabalho e educação estarão oportunizados no espaço coletivo de participação”, salienta. Os futuros moradores terão acesso a banco de ferramentas, estúdios e laboratórios e a equipamentos profissionais.

Mas é a produção de alimentos que mais chama a atenção. O empreendimento, que está sendo planejado para um terreno de 500 mil metros quadrados localizado a seis quilômetros do Centro de Piracaia, prevê a construç ão de um sistema de produção aquapônico. O projeto ainda está sendo elaborado, mas deve incluir a construção de seis tanques, sendo quatro grandes, para engorda dos peixes, e outros dois menores, para o crescimento dos animais. As espécies escolhidas para serem utilizadas do projeto devem ser a carpa (Cyprinus carpio) e tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus), além de cascudo (Loricariidae) e curimbatá (Prochilodus lineatus), que ajudam na limpeza dos tanques.
Mas ainda poderão ser criados no local camarões de água doce e truta, um peixe originário da zona ocidental da América do Norte que se adapta muito bem ao clima frio e as águas limpas e oxigenadas da Serra da Mantiqueira. “Piracaia tem uma altitude de 792 metros e tem um clima frio, com água gelada. A ideia é criar trutas e não vender por quilo, mas defumar o peixe e alcançar um valor maior”, destaca Annunciato, que trabalha há 11 anos com o planejamento e construção de sistemas de Aquaponia. A estratégia de agregar valor também será usada no cultivo de hortaliças. “Pretendemos criar uma marca e vender os produtos em embalagens na região de Piracaia e também em São Paulo, que fica a menos de 100 quilômetros de distância”, adianta.
Biofertilizante

O pesquisador adianta que a estrutura de Aquaponia do Ecopolo Equilibrium contará com um sistema de filtragem. Os resíduos gerados pelos peixes por meio do processo de alimentação serão filtrados em dois estágios. O primeiro, de forma mecânica, retém as partículas sólidas maiores, as quais serão aproveitadas para reutilização posterior como biofertilizante, por exemplo. E, na segunda, de forma bioquímica, as partículas menores serão transformadas por colônias de bactérias e plantas como nutriente. Este processo cíclico e de circulação fechada mantém o equilíbrio no meio aquático para os peixes e nutre bactérias e plantas de forma constante. Além de economizar mais de 90% da água em comparação com a agricultura convencional, tem produtividade duas vezes maior e pode ser praticado em qualquer local.

Também deverá ser usado no Ecopolo Equilibrium o sistema NFT (Nutrient Film Technique) para o cultivo de folho-sas como alface, rúcula e temperos, e a Aeroponia, para a produção de batatas. “Também deveremos utilizar técnicas derivadas da Hidroponia, como raízes imersas para o cultivo de folhosas, e fluxo e refluxo [inundação e drenagem], que é muito usada na produção de alface e de frutos”, explica Annunciato.
A área em que o empreendimento será erguido possui várias vertentes e água não deverá ser um problema para o cultivo de frutas, legumes e verduras. Mas a água da chuva será coletada e usada na produção sustentável dos vegetais. O projeto prevê cultivo horizontal, em perfis hidropônicos, e também vertical, conduzido em prateleiras sobrepostas. “No cultivo de alface, por exemplo, dá para cultivar entre 20 e 25 plantas por metro quadrado, mas, quando se verticaliza a produção, esse número triplica”, sublinha o especialista.

O projeto do Ecopolo Equilibrium começou a ser planejado ainda em 2009, com a criação da Associação Aliança Luz, uma Organização da sociedade civil de interesse público (Oscip) científica e educacional. Em 2014 foi criada a Cooperativa Equilibrium. A estimativa é de que cerca de 50 famílias morem na ecocidade quando ela estiver totalmente concluída.
Annunciato é fundador do empreen-dimento social Aquaponia Equilibrium, que tem como cofundador o consultor Enric Toledo. A empresa oferece, além de projetos, consultoria e montagens de sistemas, cursos presenciais para poten00cializar a prática, vista como inovadora e sustentável. “Eu uso a Aquaponia como ferramenta social, o meu impacto social é por meio dela”, comenta Annunciato.

O especialista da Equilibrium aborda técnicas e atualizações da área para famílias urbanas, entidades sociais, instituições de educação e produtores de escala comercial. “É uma questão de saúde, obtemos um alimento saudável, além da economia de água de até 98%, comparado ao cultivo convencional. Além disso, a Aquaponia pode ser feita em qualqumier lugar e a planta cresce mais rápido do que no solo”, com-pleta Annunciato.
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