A mulher que cultivou um sonho com raízes na água
Série especial Mães da Hidroponia

Em um mundo em que o solo já não é mais o limite, Atelene Normann Kämpf, 79 anos, fez florescer uma paixão que transcende o tempo e o espaço. Natural de Porto Alegre, doutora em Hidroponia, professora, consultora e eterna entusiasta do cultivo sem solo, Atelene não apenas estudou a ciência do crescimento, mas a semeou com amor e dedicação, como só as verdadeiras mães sabem fazer. A história de Atelene abre a série especial Mães da Hidroponia, da Plataforma Hidroponia, que será publicada até o final do mês de maio e produzida com outras mães inspiradoras, como uma homenagem especial ao Dia das Mães e ao universo de mães hidropônicas.
Doutorado com argila expandida
Nos anos 1970, enquanto a maioria das práticas agrícolas ainda se apoiava em métodos tradicionais, Atelene embarcou em uma jornada que a levaria até a Alemanha, para estudar na Universidade de Weihenstephan, em Munique (Alemanha), referência em ciências aplicadas e sustentabilidade. Foi lá que ela encontrou uma pergunta que mudaria seu caminho — seria possível cultivar sem solo, sem destruir ecossistemas, sem drenar banhados para extrair a turfa?
A resposta veio na forma de pequenos grânulos: argila expandida. Em seu trabalho de doutorado, ela cultivou cerca de 3 mil vasos com bromélias. Metade delas cresceu na tradicional turfa; a outra metade, em argila expandida. O resultado foi claro e transformador: o novo substrato não apenas igualava os resultados da turfa, mas representava um avanço ambiental.
Orientou gerações de agrônomos
Ao retornar ao Brasil em 1978, Atelene trouxe mais do que um título com distinção. Ela trouxe uma semente de mudança. Introduziu a técnica na área de Floricultura da UFRGS. Com apoio de alguns setores da UFRGS, entre outras fontes, construiu uma estufa com um prédio anexo para laboratório, espaço para alunos de Mestrado e Doutorado; orientou agrônomos e compartilhou seu conhecimento com humildade. Nunca se autodenominou mãe da Hidroponia no Rio Grande do Sul — mas, como tantas mães, seu amor silencioso e sua entrega cuidadosa fizeram florescer o que antes era desconhecido.
Hoje, aposentada, residente em Brasília (DF), Atelene cultiva orquídeas em argila expandida em seu mini jardim. Ela é mãe de três filhos, com seu marido Nestor Kämpf, e é vó de quatro netos. A mesma argila que, décadas atrás, ela testou em sua pesquisa revolucionária. Olha para a Hidroponia atual com olhos brilhantes e um coração orgulhoso. Vê nela o crescimento não só das plantas, mas também do conhecimento, da sustentabilidade e da esperança de um futuro mais consciente.
Dom de mãe
Neste Dia das Mães, a Plataforma Hidroponia celebra todas as mulheres que, como Atelene, cuidam, nutrem e fazem crescer — mesmo quando não há terra firme sob os pés. Mulheres que desafiam o impossível com ciência, intuição e amor. Que descobrem caminhos onde não havia trilhas, que plantam ideias e colhem transformações. A Hidroponia é também um campo fértil de afeto. É preciso conhecimento. Porém, é preciso também o toque de quem cuida, observa, entende os sinais sutis das folhas e das raízes — um dom que tantas mães possuem sem nem saber que é ciência. Que a história de Atelene inspire e homenageie o universo de mães da Hidroponia. Daquelas que ensinam, cultivam, inovam e, acima de tudo, acreditam que todo crescimento começa com amor — mesmo quando ele nasce na água.
Por Graziela Sauer Branco/Plataforma Hidroponia