Aquaponia como projeto de inclusão social

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Detentos da segunda maior prisão do Rio Grande do Sul se dedicam à produção de peixes e de hortaliças.
Aquaponia como  projeto de inclusão social

A Aquaponia – técnica que une psicultura e Hidroponia (cultivo de plantas sem solo) – virou um instrumento de inclusão social na Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ), localizada em Charqueadas (RS). Por trás dos muros de concreto da casa prisional, um grupo de presos se dedica à produção de peixes e de hortaliças.

O projeto-piloto é uma parceria do De-partamento de Horticultura e Silvicultura da Universidade Federal do Estado do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e a PEJ, a segunda maior prisão do Estado, onde convivem 2 mil presos. Um oficial da Brigada Militar soube do projeto de extensão Universitária da faculdade de Agronomia da Ufrgs, intitulado “Horticultura Urbana” e entrou em contato com a universidade com o propósito de revitalizar as hortas. A instituição de ensino, porém, propôs um curso de capacitação para horticultores urbanos, ministrados por docentes, alunos de graduação e pós-graduação da faculdade de Agronomia.

O curso teve carga horária de 80 horas, distribuídas em 13 encontros teórico-práticos e aplicação prática dos conteúdos trabalhados na revitalização da horta tradicional (em canteiros no solo) e na construção de um sistema aquapônico e seu respectivo manejo para produção consorciada e simbiótica de plantas (hortaliças, plantas condimentares, aromáticas e medicinais) e de animais (tilápias).

Projeto de inclusão social

“A proposta tem o objetivo de incentivar o trabalho dos apenados assistidos com a produção de alimentos orgânicos em espaços urbanizados, tanto no interior da penitenciária e quando ganharem a liberdade, apresentando alternativas de geração de renda com a temática, auxiliando na ressocialização destes e na redução da pena”, afirma a professora Tatiana da Silva Duarte, do Departamento de Horticultura e Silvicultura da faculdade de Agronomia.

E também uma oportunidade para que os alunos, futuros profissionais, aplicassem os conhecimentos desenvolvidos durante o curso de graduação e pós-graduação e ainda desenvolvessem a sua cidadania, ao se envolverem em atividades que vão para além do ensino, em que a universidade se estende até a comunidade, gerando impacto social. Participaram cinco alunos de pós-graduação em Fitotecnia, outros sete de graduação em Agronomia e um professor.

Aulas teóricas

Nos encontros, 12 apenados – eram 16, mas quatro não foram até o final – aprenderam técnicas como compostagem, tratamento de solo e cultivo de hortas sustentáveis. Um desses módulos foi sobre Aquaponia. A empolgação dos detentos com a possibilidade de criar um sistema próprio fez o projeto dar mais um passo: a instalação de um protótipo dentro da prisão. Por uma questão de segurança, não foi possível construir uma estufa, mas, mesmo construídos a céu aberto, os tanques foram uma conquista.

Os estudantes da Ufrgs ajudaram a desenvolver o sistema, mas a construção do protótipo também teve a participação dos detentos. Para o modelo implantado na PEJ foram adquiridos dois tanques com capacidade de até 2 mil litros de água. Eles também utilizaram três bombonas de 200 litros cada, onde é realizada a decantação e a filtragem mecânica e biológica. Além disso, foi instalada mais uma caixa d’água de 500 litros, que serve como SUMP.

Para o cultivo dos vegetais foram cons-truídas bancadas de madeira para receber cinco caixas plásticas de 250 litros cada, criando uma área de cultivo de 5 metros quadrados, preenchidas com brita e argila expandida, formando o leito de cultivo das plantas. Para a circulação da água e para a sua oxigenação foram usadas cinco motobombas, de 30 watts cada.

Como é um projeto-piloto, nessa pri-meira etapa estão sendo usadas tilápias juvenis criadas em estufa na faculdade de Agronomia, que foram cultivadas no verão e outono. No entanto, devido as baixas temperaturas do inverno no Rio Grande do Sul, a tilápia será substituída por peixes mais adaptados ao frio gaúcho, como jundiá ou carpa.

Como funciona

Ao lado dos tanques, em caixas com brita e argila expandida, são cultivadas hor-taliças, como alface, manjericão, alecrim, amarelinha, pimenta, salsinha e manjerona. O sistema reaproveita a mesma água, enriquecida com os nutrientes obtidos a partir dos dejetos dos peixes. A água, após ser filtrada, não é desperdiçada, o que evita um impacto ambiental. Ela é utilizada na rega das plantas e retorna para os tanques das tilápias, em um ciclo sustentável. A produção estimada por ano é de 700 unidades de folhosas – especialmente alface e rúcula – e 500 unidades de temperos diversos, como salsa, coentro, cebolinha. Neste sistema planejado, é possível produzir até 300 quilos ao ano de peixes.  

A cada 20 dias, os dejetos excedentes do sistema são retirados e utilizados para adubar o solo em outra horta da prisão. Ali, os presos usaram outra técnica aprendida nas aulas e passaram a empregar as sobras da cozinha (como cascas de legumes) para enriquecer o solo. Eles também montaram uma estufa e se dedicam à produção de mudas.

Para participar do projeto, os detentos foram selecionados pela equipe de segurança da casa prisional, de acordo com o perfil de cada um, que inclui tanto alguma qualificação anterior, quanto vontade de mudar de vida. Além de permitir ter uma oportunidade de trabalho dentro da prisão, o trabalho permite a redução da pena, pois a cada três dias de trabalho, um é descontado. Os alimentos produzidos são utilizados pelos próprios apenados para complementar as refeições, e o excedente é destinado a doações para instituições de caridade e escolas da rede pública de Charqueadas, como o asilo do município e a Associação de Pais e Amigos dos Ex-cepcionais (APAE).

Fonte: Engenheira agrônoma Tatiana da Silva Duarte, diretora do Departamento de Horticultura e Silvicultura da Faculdade de Agronomia da Ufrgs

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