O produtor hidropônico Rodrigo Vieira, de São Francisco de Paula (RS), deveria levantar cedo no último domingo para entregar uns pés de alface no mercado de um amigo. Mas como estava chovendo e fazia um pouco de frio, ele decidiu ficar um pouco mais em casa. A decisão de curtir um pouco mais a família se mostrou acertada. Por volta das 8h30min, um tornado varreu boa parte de São Francisco de Paula, deixando um rastro de destruição no município da Serra Gaúcha. “Eu, a minha esposa e os filhos nos protegemos como pudemos. O vento era muito forte, mas não ocorreu nada com a gente”, conta Vieira, de 35 anos.
Os ventos que, conforme o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), chegaram a 150 quilômetros por hora, destruíram completamente as seis estufas onde o agricultor produzia folhosas – alface, rúcula e agrião – e flores, especialmente boca-de-leão (Antirrhinum majus) e lisianto (Eustoma grandiflorum). “Perdi tudo, não sobrou nada”, disse Vieira, que, em função da chuva, na quinta-feira (16) não conseguiu trabalhar em seu sítio, localizado às margens da RS-020, nas proximidades do Distrito Industrial de São Francisco de Paula, um dos locais mais atingidos pelo tornado. “Agora é ter fé e trabalhar para recomeçar tudo do zero”, afirma o produtor, que estima um prejuízo de R$ 120 mil. Ele não havia feito seguro da estrutura e, tampouco, da produção.
Vieira estava trabalhando com Hidroponia há pouco mais de um ano. Ele conta que um produtor decidiu abandonar a atividade e lhe perguntou se ele queria comprar os tubos. Vieira se interessou pela técnica e em pouco tempo começou a produzir usando quatro estufas, todas de 650 metros quadrados. Em duas das estruturas, a cada semana, ele produzia 140 dúzias de alface, 25 dúzias de rúcula e outras 25 dúzias de agrião. Nas demais, produzia 100 maços de boca-de-leão e lisianto por semana.
A produção era entregue a distribuidores e comercializada na Ceasa-RS, em Porto Alegre e, em Lajeado, município do Vale do Taquari. “Eu gostei da Hidroponia. É melhor de trabalhar e ainda permite uma economia de água de até 80% e também reduz o uso de defensivos”, destaca Vieira, que antes produzia rosas pelo sistema convencional.
Ventos de 150km/h
O tornado castigou São Francisco de Paula, que possui 21,5 mil habitantes, matando um jovem e deixando 70 pessoas feridas. Bairros como Centro, Gaúcha, Santa Isabel e São Miguel foram devastados pela força do vento. Ao menos 700 residências foram danificadas. O prejuízo foi estimado em aproximadamente R$ 21 milhões, incluindo perdas no comércio, serviços, infraestrutura industrial e agronegócios. A agricultura, porém, foi o setor mais atingido pelo tornado, com danos de R$ 12 milhões. A reconstrução da cidade levará seis meses, conforme estimativa da prefeitura.

