OS DESAFIOS QUE AS MÃES TRABALHADORAS AINDA ENFRENTAM

Tradicionalmente, a maioria das mulheres estava vinculada ao papel de mães em tempo integral. No entanto, nas últimas décadas, o número de mulheres que adotaram carreiras em tempo integral aumentou. Isso ainda gera um grande impacto sobre as mulheres. E para celebrar o Dia das Mães, a Plataforma Hidroponia trouxe Lidiane dos Santos da Silva, mulher, mãe de Bernardo (12) e Rafaela (10) e empreendedora e Roberta Marins Nogueira Peil – Engenheira Agrônoma (formada pela UFPEL); Doutora em Agronomia pela Universidad de Almeria (Espanha), mãe de Felipe (17), educadora e pesquisadora na área da Hidroponia. Duas grandes mães trabalhadoras com perfis distintos, mas que carregam consigo determinação e coragem para enfrentar os desafios do mercado de trabalho da maternidade.

O ponto chave para elas foi gerenciar o tempo de maneira eficaz entre o preconceito do mercado de trabalho, a família e as atividades pessoais. Outro ponto em comum e importante momento para lembrar a todas as mães trabalhadoras é que não adianta sentirem-se culpadas por não poderem dar tanto tempo para sua família. 

As mães que trabalham já estão contribuindo muito, não apenas com os filhos, mas também com toda a sociedade. É preciso aceitar que as compensações são inevitáveis, buscar ajuda quando necessário e acompanhar esse estilo de vida.  

Isso ajudará a aliviar muito o estresse e a pressão, e tornará mais fácil para as mulheres administrar com eficácia a multiplicidade de papéis e responsabilidades.

Mas, o que une as duas? A Hidroponia. Lidiane comanda há 5 anos, a Acqua Hidroponia com 20 colaboradores, em uma área de 2 hectares e um amplo portfólio de folhosas, das mais conhecidas até as mais especiais. Roberta é uma referência e impulsionadora de pesquisas e estudos envolvendo o cultivo hidropônico. A outra afinidade? As adversidades da maternidade. Criar um filho é intenso, desafiador e também desgastante. Mas, mais do que tudo, é auto-reflexivo e frutífero como cultivar uma plantinha.

A maternidade é uma jornada sem fim que desafia ações, palavras, atitudes, escolhas e crenças. E a cada dia da maternidade surge um desafio que traz o potencial de transformar as mães trabalhadoras em uma versão melhor de si mesmas.

Um abençoado e feliz Dia das Mães!!  

O SONHO NÃO PODE PARAR

“Força?? Não, necessidade. Havia 23 funcionários que dependiam daquele trabalho, além dos meus filhos que precisavam continuar vivendo”, relembra.

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Lidiane dos Santos da Silva, mulher, mãe e empreendedora.
42 anos, mãe de Bernardo, 12, e Rafaela, 10, reside na Zona Norte de Porto Alegre.
 
A  história da ex-professora de educação infantil e hoje empreendedora na Hidroponia, Lidiane dos Santos da Silva, 42 anos, mãe de Bernardo, 12,  e Rafaela, 10, há cinco anos à frente da gestão da empresa Acqua Hidroponia, simboliza a força feminina, a superação e o amor. 
Ainda jovem, depois de trabalhar por 10 anos como educadora, ela, junto com seu companheiro Armando, decidiram aumentar a família. Decidida, abandonou sua profissão para assumir a função exclusiva de mãe e dona de casa, após optar pela maternidade. 

Tudo ia muito bem, mas no meio do caminho, assim como essas histórias de fatalidades da vida, o destino a afrontou e o planejamento familiar mudou drástica e repentinamente, e então Lidiane se viu diante da dor e da perda de seu companheiro.

Nesses momentos, a vida também mostra que é preciso superar um turbilhão de emoções e ser racional para seguir em frente. O sentimento de impotência geralmente prevalece, mas, com Lidiane, a perda se transformou em determinação e a sua força feminina, e, principalmente, a crença fortalecedora do amor, trouxe um despertar de energia para seguir em frente e tocar sozinha a empresa da família e cuidar da criação dos filhos.

“Eu estou à frente da empresa desde a morte do meu marido e fundador da empresa, há cinco anos. Em nome do meu amor a ele e aos meus filhos amados, o sonho não pode parar!”, afirma Lidiane. Para ela, ser mulher empreendedora e mãe é só motivo de orgulho. “Sempre fui muito ativa e de personalidade muito forte, o que me deu base para aguentar as rasteiras da vida. Ao me ver sozinha, dilacerada, com o coração em pedaços e com dois filhos que dependiam exclusivamente de mim, não titubiei… nem sequer caí”, conta. 

Com a  necessidade batendo na porta e sem tempo para viver seu luto, a superação falou mais alto e a empreendedora assumiu os negócios da família imediatamente.  “Me despedi do meu marido em um dia e, no outro, eu já estava com a responsabilidade de assinar a folha de pagamento e assumir os assuntos que precisavam de mim. Força?? Não, necessidade. Havia 23 funcionários que dependiam daquele trabalho, além dos meus filhos que precisavam continuar vivendo”, relembra.

VALENTIA E DETERMINAÇÃO DIANTE DA DOR

Diante da enorme responsabilidade e da transformação de um momento que geralmente acaba em frustração e ansiedade por não conseguir evitar a perda, e uma sensação de que não seremos capazes de viver sem a pessoa, Lidiane encontrou na fé, na valentia e na determinação a sintonia para seguir vivendo e  manter o negócio,  levar adiante o sonho de seu parceiro e ainda ampliar os horizontes da sua produção hidropônica. 

“Só eu e Deus sabemos o que passei… o choro, o desespero e a dor que tive que engolir para que continuasse o sonho do cara mais incrível que conheci. O nosso orgulho, o melhor pai e marido do mundo! Não tive tempo para o luto. Foi trabalhando, diariamente, indo e vindo do sítio, que consegui manter e até ampliar os negócios. Hoje, a Acqua Hidroponia é reconhecida no Brasil inteiro pela qualidade e caráter do nosso lindo trabalho”, destaca.

SUPERAÇÃO DE PRECONCEITOS E O RECONHECIMENTO

Diante de todas as dificuldades passadas, a empreendedora ainda teve que superar o machismo que ainda envolve o mercado de trabalho para as mulheres. “A mulher no meio rural sofre muito com o machismo que cerca esse trabalho. Mas fui e sou muito valente!”, salienta. A empreendedora lembra que, em 2019, ganhou um dos prêmios das Mulheres do Agro –  um reconhecimento pelo papel como mulher dentro do agronegócio. 
 

A DIFÍCIL E ABENÇOADA MISSÃO DE MÃE E PAI

A vida muda radicalmente depois do nascimento de um filho. Imaginem de dois e somada à responsabilidade exclusiva de comandar o negócio da família. Com a perda do companheiro, a vida de Lidiane acumula também o desafio de buscar uma flexibilidade na rotina da casa e encontrar tempo para os filhos na jornada dupla da mãe empreendedora.  ”Meu maior desafio foi deixar meus filhos em casa e sair pra trabalhar. Chegar em casa tentando disfarçar o rosto inchado de tanto chorar [pois o único lugar que me sentia livre pra viver o luto, era dentro do carro, durante aquela uma hora de trânsito para ir e pra vir da empresa] também foi dolorido demais”, observa. 
 Um dia, quando chegou em casa, encontrou a filha pequena chorando. Quando perguntou o motivo, a menina respondeu que havia perdido não só o pai, mas também a mãe. – Como assim? A mamãe tá aqui! – disse Lidiane. – Não tá não. Tu não fazes mais o meu lanche, a nossa comida, não sentas mais na mesa pra almoçar com a gente – respondeu a filha, ainda chorando. Naquele momento, a empreendedora não teve argumentos e admitiu que a filha estava certa. “Eu havia deixado de ser a mãe 24 horas por dia, pra me dividir entre trabalho, casa, filhos, negócios…Ser pai e mãe, que tarefa dificílima”, desabafa.
Embora haja um espaço vazio da presença física na família, Lidiane, Bernardo e Rafaela são exemplos de que o amor é mais forte, mais obstinado e mais duradouro que tudo.
 

ACQUA HIDROPÔNICOS: CULTIVANDO GREENS E AMOR

Criada em 2005 pelo jovem produtor rural Armando Martins dos Santos (in memoriam) a Acqua Hidroponia tinha  apenas meio hectare de produção e dois colaboradores. Com o foco em tecnologia, qualidade e atendimento ao cliente, o sonho de seu fundador se ampliou e a empresa completa hoje 15 anos, com uma área de dois hectares e o trabalho de 20 colaboradores em mais de 30 estruturas diferenciadas.
Entre seus produtos está um amplo portfólio de folhosas, das mais conhecidas até as mais especiais, como as baby alface holandesas disponíveis nos melhores mercados e restaurantes da capital gaúcha. Com excelência, a empresa  mantém a essência plantada por seu fundador, voltada  a melhor versão do plantio de culturas na água, no cultivo que faz bem, e no foco na produção de uma alimentação saudável e segura. Sua filosofia é qualidade, segurança, atendimento e sustentabilidade. Hoje, ela produz hortaliças e temperos e cultivam também o amor! Um amor que vai à mesa, que alimenta o corpo e a alma!
 

MÃE: O MELHOR PAPEL DA VIDA

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Roberta Peil, Engenheira Agrônoma (formada pela UFPEL), Doutora em Agronomia pela Universidad de Almeria (Espanha), mãe do Felipe de 17 anos e reside em Pelotas, Rio Grande do Sul.

A multiplicidade de papéis é uma realidade vivida pelas mulheres que, dentre outros fatores, está relacionada ao processo de conciliar a vida profissional e a maternidade. Neste sentido, uma das maiores dificuldades para lidar com essa situação é administrar as demandas dessa multiplicidade, até porque alguns dos obstáculos foram historicamente construídos como excludentes. 

Para a mãe e pesquisadora Roberta Marins Nogueira Peil – que é engenheira agrônoma formada pela Universidade Federal de Pelotas UFPEL e Doutora em Agronomia pela Universidad de Almeria (Espanha) – a multiplicidade de papéis entre a vida de pesquisadora e o de mãe do jovem Felipe, 17 anos, não foi seu maior desafio, mas sim a visão sexista, que diferenciava as relações de capacidades e interesses entre homens e mulheres na sociedade, e que ainda promovem concepções preconceituosas. 

“Na época que me graduei em Agronomia, ainda havia muito preconceito sobre a atuação profissional das mulheres nesta área. Para as mulheres da minha geração não bastava demonstrar igualdade com os homens, mas sim, tínhamos que ser melhores para, assim, estabelecer-nos no mercado de trabalho e sermos respeitadas como profissionais. Era uma autoexigência muito elevada. Hoje, eu percebo que as minhas alunas, futuras agrônomas, já são mais despreocupadas em relação à necessidade de demonstração de sua capacidade profissional”, explica Roberta.

DEDICAÇÃO AO ESTUDO DA  HIDROPONIA

Historicamente, a ciência também sempre foi vista como uma atividade realizada por homens e  somente após a segunda metade do século 20 que ocorreram mudanças nesse quadro. Roberta é uma grande representante dessa participação feminina, e sua produção científica na área da Hidroponia é muito relevante.  A trajetória da professora e pesquisadora em cultivo sem solo exigiram viagens, muitas horas de estudos e a prática de experimentos a fim de desenvolver novos métodos  na área da Hidroponia.

As primeiras experiências ocorreram em 1994, por meio da participação em um curso de especialização sobre Produção de Hortaliças, da Agência de Cooperação Internacional do Japão/JICA. “Permaneci nesse país por sete meses, quando desenvolvi experimentos com tomateiro cultivado em substrato”, lembra. Quando retornou ao Brasil, começou a executar projetos nesta área, na condição de professora da UFPel.
De 1996 a 2000, realizou o curso de doutorado sobre Agriculturas intensivas y cultivos protegidos, da Universidad de Almeria, no sudeste da Espanha. “Durante este período participei de vários projetos de pesquisa na área de cultivos sem solo, sendo que a minha tese foi sobre ecofisiologia da produção de pepineiro cultivado no sistema hidropônico NFT”, conta. “A partir do retorno ao País, impulsionei as pesquisas nesta área na UFPel”, acrescenta.

Na docência, Roberta é professora de algumas disciplinas e orientadora sobre o tema. “Além disso, oriento trabalhos de pesquisa, sobretudo, sobre sistemas fechados de cultivo sem solo de hortaliças e flores de corte, empregando substratos ou sistemas hidropônicos do tipo NFT”, explica.
 

MULTIPLICIDADE DE PAPÉIS E O SENTIMENTO DE CULPA

Roberta sabe que administrar os diversos  papéis (mulher, professora, pesquisadora e mãe) muitas vezes faz aflorar o sentimento de culpa ao dar prioridade, eventualmente, a uma ou outra função.

“Isso representa a  exata multiplicidade de papéis que as mulheres exercem na sociedade, tentando dar o melhor de si. Isto é, ser a melhor mãe possível e, ao mesmo tempo, a melhor profissional. Algumas vezes, ocorre o sentimento de culpa, por deixar a maternidade, eventualmente, de lado para poder desempenhar as diferentes atividades da vida profissional. Noutras vezes, exercer o papel de mãe exige colocar a profissão em segundo plano”, observa.

TRANSFORMANDO O NEGATIVO EM POSITIVO

Muitas vezes, é a perspectiva e a forma como lidamos com as coisas que piora ou melhora as situações. Os muitos anos de dedicação à pesquisa, a quebra de paradigmas e preconceitos, a perseverança e a perspicácia diante da vida, fizeram  com que a mulher Roberta encarasse as questões da parentalidade que ainda é desigual e um grande desafio, como  uma possibilidade de aprendizado para ela e exemplo para seu filho. “Todas estas questões controversas da vida da mãe e profissional valem muito a pena, quando conseguimos demonstrar ao filho, por meio do exemplo, que o trabalho digno, prazeroso e bem feito é um aspecto fundamental para sermos realizados e felizes”, sublinha.
 

SER MÃE: SEU MELHOR PAPEL

A grande mensagem de Roberta, ainda que tenha aprendido a conciliar seus múltiplos papéis, é a sagrada tarefa feminina da maternidade que a faz completamente feliz.  “O maior desafio pra mim é conciliar as atividades profissionais com o melhor papel que exerço na vida, que é o de ser mãe”, finaliza.


Andrea Weschenfelder
Plataforma Hidroponia – Editora WEB
MTB 10594

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