O cultivo hidropônico vem crescendo em todo o mundo, devido a fatores como poder produzir vegetais com o uso de até 80% menos água em comparação com o cultivo convencional. E, por não depender do solo, a produção pode ser conduzida em locais com solos pobres. No Chile, país que ocupa uma longa e estreita faixa costeira encravada entre a cordilheira dos Andes e o oceano Pacífico, os produtores tiveram de improvisar para trabalhar com Hidroponia.
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A técnica é recente no Chile e teria começado por iniciativa de Dolores Jiménez Gonzales, na década de 2000. Em 2006, ela se desfez de imóveis e carros e se mudou com a família para o Atacama, o deserto não polar mais seco do mundo. No meio dos quase 1 mil quilômetros de extensão do deserto, situado no norte do Chile, ela começou a cultivar alface pelo sistema hidropônico. “Ela e a família não tinham energia elétrica e nem água e moravam em uma casa feita com plásticos e papelão. Mas mostrou ser possível produzir em uma região árida e com solos contaminados pela mineração”, afirma o engenheiro agrônomo Carlos Alberto Hidalgo Vilquez, que presta assessoria técnica aos produtores.
O pioneirismo de Dolores – que hoje possui três estufas e trabalha com os dois filhos – foi seguido por mais de uma centena de produtores que estão organizados na Asociación Gremial de Agricultura de Altos La Portada Antofagasta (Asgralpa), que ela coordena. Em março de 2011, a prefeitura de Antofagasta e o Ministério de Bens Nacionais entregaram para os agricultores, em regime de comodato, cerca de 100 hectares. Cada um deles recebeu 0,5 hectare de terreno para exploração exclusiva de cultivos hidropônicos. Desde então, a zona desértica foi coberta por centenas de estufas, cobertas com malhas de proteção para evitar a radiação solar e a evaporação da água. O prazo para o uso da área – localizada a 15 quilômetros ao norte de Antofagasta – inicialmente seria de dez anos, mas foi estendido para 30 anos.
A Asgralpa foi criada por 75 sócios-fundadores e ocupava uma área de apenas 2 hectares, mas atualmente a entidade conta com 120 associados. A grande maioria deles (cerca de 60%) produz alface, que responde por quase 90% da produção, além de rúcula, acelga, espinafre, mostarda, salsa e ervas aromáticas, além de hortaliças de fruto como pimentão, pepino e tomate. Ainda cultivam flores e, no futuro, pretendem agregar o cultivo de algumas frutas. Os produtores adotam os sistemas floating (piscina) e NFT para produzir folhosas. “As hortaliças de fruto, como tomate, pimentão e pepino, são cultivadas por meio do sistema semi-hidropônico, em vasos”, explica Vilquez, que em 2014, foi um dos palestrantes do 9º Encontro Brasileiro de Hidroponia, em Florianópolis (SC).
Água do mar – Os associados da Asgralpa utilizam como substrato a fibra de coco e a areia grossa de rio, que é limpa com água sanitária para eliminar qualquer fonte de infecção, provocada pro algum patógeno prejudicial aos cultivos que serão instalados. Sem energia elétrica, os agricultores usam painéis fotovoltaicos para aproveitar a luz solar, um recurso abundante no deserto. A água usada para irrigar as hortas hidropônicas vem do mar. Por meio do processo de osmose inversa, o sal é retirado e a água se torna potável. A Asgralpa investiu na instalação de 800 metros de tubulações e 12 tanques com capacidade para 30 metros cúbicos cada um. Cada membro da cooperativa recebe, em média, 26 litros cúbicos por mês. A água dessanilizada é levada aos produtores por caminhões-cisterna.
Os produtores, que, desde 2013, estão organizados em uma cooperativa, investiram na construção de um espaço para processar os vegetais e agregar valor à produção. Os alimentos são entregues à cooperativa e comercializados em supermercados, restaurantes, hotéis e feiras livres de Antofagasta, Mejillones, Tocopilla e Calama. A entidade também aposta nos chamados Pontos Verdes, estandes que são montados em diferentes municípios da região para apresentar a produção aos consumidores que buscam alimentos frescos e saudáveis.
Em 2016, a Asgralpa conseguiu a certificação Sello Manos Campesinas, resultado do trabalho conjunto entre as organizações de camponeses, o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário (Indap) e a Universidade do Chile. “O selo é uma certificação que respalda atributos de produtos e serviços gerados por pequenos produtores em todo o território nacional”, destaca Vilquez, que ajudou os produtores a diversificarem a produção e os capacitou em Hidroponia, boas práticas de agricultura, nutrição vegetal e manejo integrado de pragas.
Com os resultados alcançados, o projeto-piloto está sendo levado para diferentes regiões do Chile, como Santiago do Chile, Calama, Coquimbo e Valparaiso, conforme o engenheiro agrônomo. “A cidade hidropônica de Altos La Portada é o maior projeto em Hidroponia da América do Sul”, destaca Vilquez. A presidente da Asgralpa diz que a Hidroponia será a grande solução para o déficit de produtos vegetais que existe no norte de Chile, tanto em qualidade como em volume. “Com muito orgulho afirmo que na cidade de Antofagasta, no deserto mais árido do mundo, fazemos agricultura. Como temos os solos degradados, plantamos o projeto de Hidroponia, o qual está nos entregando satisfações e bons produtos, que têm a vantagem de estarem livres de contaminações”, completa Dolores Jiménez.
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