“A Hidroponia está crescendo muito no Brasil. Em qualquer cidadezinha tem uma chácara que cultiva produtos hidropônicos”
Gil Simões – especialista agronômico, na Yara Fertilizantes Brasil (São Paulo) desde 1998.
Considerado um dos ícones da horticultura brasileira, a Plataforma Hidroponia traz a entrevista especial com o engenheiro agrônomo Gil Simões.
Ao longo de sua exitosa carreira na Yara Brasil, o qual é um dos agrônomos em atividade há mais tempo, Gil Simões se destaca na área de assistência e suporte técnico ao produtor, gerenciamento de propriedade rural, implantação de estufas de flores e projetos de fertirrigação.
Ele também trabalha junto a órgãos de pesquisa na área de frutas, legumes e verduras, além de grandes culturas, como café. Sua experiência em hortifrutigranjeiros iniciou em 1990, onde também acompanhou o crescimento do cultivo hidropônico no Brasil.
Conheça agora mais sobre a sua trajetória.
PH – VOCÊ É CONSIDERADO UM ÍCONE DA HORTICULTURA BRASILEIRA, COMO TEVE INÍCIO ESSA JORNADA?
GS – Não me considero um ícone da horticultura. Formei-me em Agronomia na Fundação Pinhalense de Ensino, em 1979. Eu sou um engenheiro agrônomo que gosta do que faz. E sou apaixonado por Zootecnia, por gado e por grandes culturas. Quando terminei a faculdade, fui direto para a roça da minha família em Paraibuna, uma cidadezinha próxima de Atibaia, para trabalhar com gado de leite.
Mas após a venda da fazenda pelo meu pai, a vida mudou e passei a atuar na indústria de alimentos. Foram seis anos trabalhando como engenheiro de produção de alimentos de uma fábrica de biscoito, também da família, mas meu sonho era ainda, voltar para a agricultura.
Empreendi numa pequena loja de insumos agrícolas, que acabei encerrando e fui trabalhar em uma multinacional. E foi então que iniciei na horticultura com a produção de flores para terceiros, construir estufas e cultivei rosas e crisântemos.
PH – QUANDO VOCÊ INGRESSOU NA YARA?
GS – A oportunidade de entrar na Yara, então Isla, teve início há 24 anos. E só tenho a agradecer a esta empresa, porque ingressei nesse mercado com mais de 40 anos (já meio velhinho) e assumi logo a posição de cuidar de Holambra e todo esse anexo de São Paulo. É uma escola, quem quer aprender sobre hortifrutigranjeiros deve atuar em uma empresa que trabalhe com isso, como a Yara, como a Cooperativa Holambra, a Tomatech, dentre tantas.
PH – COMO É REALIZADO O SEU TRABALHO DE EXTENSAO RURAL?
GS – Não aprendemos apenas com os livros. Aprendi muito no campo, esses anos me ensinaram muito. A extensão rural é a minha veia. Faz-me muito bem estar com o produtor, tentar ajudá-lo a produzir bem. Eu já tive fazenda, mas não tenho mais recursos financeiros para manter uma, mas o que importa, é estar na roça, na fazenda, mesmo não sendo minha eu as trato as plantas como se fossem minhas, isso é uma benção de Deus. Faria tudo de novo.
Lógico, fiz coisas erradas, quando saí da faculdade não tinha vivência gerencial. Hoje eu tenho. Entrei na Yara, que além do produto, ela também faz boa gerência. Estou numa empresa que me permite trocar informações e ensinar o pessoal. A nossa empresa sempre foi muito humilde e a Isla começou pequenininha em São Paulo.
Lembro quando andávamos pelo Brasil inteiro com um saco do produto no porta-malas do carro para mostrar aos produtores que era bom, que tinha qualidade. Éramos nós e outras duas empresas, e a Yara seguiu todos esses anos todos com atuação na fertirrigação e a Hidroponia com a orientação do Professor Doutor Pedro Roberto Furlani, da Conplant, de Campinas. Conversar e relembrar esse período é apaixonante e trás boas energias e estímulo para continuar.
PH – O QUE VOCÊ APRENDEU COM O PROFESSOR PEDRO FURLANI?
GS – Eu tenho a felicidade de morar em uma região muito boa, no estado de São Paulo que tem tudo. Nesse tudo temos a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – Esalq e o Instituto Agronômico de Campinas – IAC. E eu e uma colega fomos os primeiros a fazer o curso de Hidroponia do professor Furlani no IAC. Houve um momento em tomávamos um cafezinho juntos e surgiu a necessidade de falarmos sobre a reciclagem química, e se havia a possibilidade de ele nos dar uma aula sobre o assunto. Foi então que tudo começou. Só tenho a agradecer a esse homem, a Mônica, ao Camilo e por aí vai, porque conseguimos criar uma aliança e essa troca me enriqueceu absurdamente.
A impressão que tenho é de que eu ainda estou fazendo faculdade com esse professor. Eu sempre aconselho meus meninos, meus colegas de empresa a se aproximarem de quem tem amor e paixão pela produção, que sempre será um bom técnico com humildade. A minha filha é bióloga e está fazendo isso. Falei para ela seguir pessoas do bem, com uma proposta agronômica e profissional boa, sem a ganância.
PH – VOCÊ TREINA OS COLABORADORES MAIS JOVENS DA YARA. QUAL O LEGADO QUE VOCÊ QUER DEIXAR?
GS – Eu sempre lutei para ser um bom agrônomo, não sei se eu sou, mas vou sempre tentar ser melhor, não no sentido de superar alguém, mas em saber que fiz o meu melhor.Temos de deixar alguma coisa da nossa história, em especial como agrônomo. No meio agrícola o diferente é termos a visão de evolução. Existe uma gratidão de termos sempre a visão de futuro da agricultura. Se me convidarem para ir cultivar na lua eu vou, estou sempre pesando nesse futuro.
Esse é o desafio, inovação. Eu tenho que contribuir mais com os jovens que estão na empresa, pois essa é a minha função, treiná-los, passar o conhecimento acadêmico, mas também o de vida. Tentamos passar o prático. Temos um relacionamento muito forte com a cadeia e isso é o que falta hoje. Hoje é tudo mais engessado, mais no e-mail, mas tem cliente que gosta de conversar, entender o por que. Há quem ache que o proprietário rural está na segunda geração. Mas nem tanto, existem muitas propriedades em que as pessoas mais experientes têm o comando, coisas que um celular não resolve, como uma recomendação técnica, por exemplo. Estamos tentando passar o prático, por meio de uma assistência rural.
PH – COMO VOCÊ AVALIA A EVOLUÇÃO DA HIDROPONIA NO BRASIL NOS ULTIMOS ANOS?
GS – A Hidroponia está crescendo muito no Brasil. Em qualquer cidadezinha tem uma chácara que cultiva produtos hidropônicos. Agora, mesmo com a pandemia, vejo produtores vendendo muito e vão ter que ampliar a produção para atender a demanda. Eles estão entregando cestas, vendendo de porta em porta e fazendo atendimento online pelas redes sociais.
Quando os restaurantes fecharam, que eram os maiores compradores de hortifrúti, quem foi a nossa maior força? Os pequenos, mas as vendas caíram e a salada teve de ser jogada fora por falta de compradores.
Agora, em plena pandemia, o consumo parece ter aumentado, e os hidroponistas estão vendendo ainda mais e tendo de ampliar a produção para atender a demanda. Estão comercializando cestas e vendendo os produtos pelas redes sociais.
Andrea Weschenfelder
Plataforma Hidroponia – Editora WEB
MTB 10594