CULTIVO EM CALHAS COM SUBSTRATO E RECIRCULAÇÃO DA DRENAGEM

Alternativa econômica e de baixo impacto ambiental

O cultivo hidropônico em substrato, que, no Brasil, também é chamado de semi-hidropônico, é muito usado pelos produtores de hortaliças de fruto, como tomate, pepino e pimentão, e de frutas como o morango. Em Bom Princípio/RS, município situado na região metropolitana de Porto Alegre/RS, a cultura ganhou tal importância na atividade econômica que o pórtico na entrada da cidade chama-se Morangão. [ihc-hide-content ihc_mb_type=”show” ihc_mb_who=”5,6,7″ ihc_mb_template=”3″ ]Os produtores gaúchos utilizam vasos ou slabs (sacolas plásticas) com substrato, suspensos em bancadas. Alguns chegam a cultivar até 15 mil pés de tomate em vasos, o que representa uma área de meio hectare. Outros cultivam flores como gérbera em vasos suspensos em bancadas. E alguns utilizam slabs para cultivar cerca de 450 mil plantas de morangueiro. No entanto, estes materiais não são baratos e representam um custo adicional na produção. Como alternativa, muitos agricultores estão recorrendo ao uso de calhas de PVC flexível, do tipo cochinho. 

Nos sistemas abertos, em que a solução nutritiva é descartada após o uso, de 15% a 40% de drenagem é perdida, conforme a professora Roberta Marins Nogueira Peil, do Departamento de Fitotecnia da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel/Universidade Federal de Pelotas (UFPel), No cultivo de tomateiro em vasos, o consumo é de 1,5 litro de água por planta/dia. Considerando a fração de drenagem em 15%, o lixiviado é 0,225 litro/planta/dia. Em três estufas de 800 metros quadrados (2,4 mil metros quadrados) com 7,2 mil plantas, 1,6 mil litros seriam descartados a cada dia. Em 300 dias, o lixiviado seria de 480 metros cúbicos. “Seria necessário utilizar 2 milhões de litros por hectare, 67 litros por planta”, ressalta Roberta. 

No cultivo do morangueiro em slabs, com cinco gotejadores por slab, são utilizados 3,7 litros/slab. Calculando a fração de drenagem em 20%, o lixiviado é de 0,75 litro/slab/dia. Em cinco abrigos, de 1.250 metros quadrados, 2 mil slabs permitem o cultivo de 10 mil a 14 mil plantas. São descartados 1,5 mil litros por dia, fazendo com que, em um ano, o lixiviado chegue a 550 metros cúbicos. “Neste sistema, são usados 4,4 milhões de litros por hectare a cada ano, 275 litros/slab/ano, de 40 a 55 litros/planta/ano”, salienta a especialista, que possui graduação em Agronomia pela UFPel, mestrado em Agronomia/Produção Vegetal pela UFPel e doutorado em Agronomia/Agriculturas Intensivas y Cultivos Protegidos pela Universidade de Almería (UAL), na Espanha. 

O descarte da solução nutritiva drenada dos sistemas hidropônicos gera poluição ambiental e provoca perda de água e de nutrientes. Como o consumo de água e fertilizantes responde por mais de 20% dos custos de produção em cultivos intensivos, a reutilização da solução nutritiva permite uma produção mais eficiente e sustentável. No Brasil, porém, o reuso da solução nutritiva drenada ainda é incipiente entre os produtores hidropônicos visando a produção comercial de hortaliças. “Com o descarte da solução, o fertilizante deixa de ser nutriente e passa a ser um contaminante”, sublinha. A professora da UFPel acredita que os agricultores cultivam em sistemas abertos devido a fatores como desconhecimento, facilidade de manejo da solução nutritiva, menor custo com a instalação das estruturas e temor por aumento da disseminação de doenças. Mas ela destaca que é possível “fechar” os sistemas atuais. Na UFPel, existem pesquisas com sistemas fechados de cultivo de tomate em vasos e de morango em slabs. Nos dois sistemas, a solução nutritiva é coletada para um canal, evitando a perda de água e de nutrientes e a contaminação ambiental. 

Os produtores estão utilizando calhas em função do menor custo em relação a vasos ou slabs, mas também pela praticidade. Além das calhas de filme plástico tipo cochinho, os hidroponistas também usam calhas de PVC/plásticos rígidos, polietileno, isopor, madeira e as ecológicas, feitas de material reciclado. Os substratos para sistema fechado de calhas devem possuir elevada capacidade de troca catiônica (CTC) para evitar salinização e boa capacidade de retenção de água, de maneira que impeça o encharcamento, que provoca o “amarelamento” das plantas na extremidade baixa da calha. Os substratos usados em sistemas fechados de calhas também devem ser de baixo custo. Os mais comuns são a casca de arroz carbonizada (CAC) e casca de arroz in natura (CAIN). A CAC deve ficar entre 12 e 15 centímetros de altura na calha, enquanto que a CAIN, de 8 a 10 centímetros de altura na calha.   

 

Análise comparativa geral (*tabela1)

 

Sistema aberto

Sistema fechado

Substratos

Mais opções

Restritos (Baixa CTC)

Manejo da solução nutritiva

Mais simples

Monitoramento mais frequente

Problemas fitossanitários

Redução de 40% no uso de agrotóxicos

Redução de 40% no uso de agrotóxicos

 

Análise comparativa: minitomateiro (ciclo de 10 meses)

 

Sistema Aberto (produtor)

(Vasos: fibra de coco)

Sistema Fechado

(pesquisa)

(Calhas de madeira: CAIN)

Custo de implantação da cultura (em estufa)

R$ 33,00/planta

R$ 35,00/planta

Produtividade (ciclo de 10 meses)

8,0 kg/planta

7,2 kg/planta

Gasto de SN

455 litros/planta

333 litros/planta


Descarte SN (drenagem= 15%) 

68 litros/planta

1,3 litro/planta

 

Análise comparativa geral: morangueiro 

 

Sistema aberto: slabs (produtor) 

Sistema fechado: calhas (pesquisa + produtor)

Custo de implantação da cultura

R$ 5,0/planta

R$ 4,0 a R$ 8,0/planta*

Produtividade

0,9 a 1,2 kg/planta/ano

0,9 a 1,2 kg/planta/ano

Gasto SN +água

190-265 litros/planta/ano

29 litros/planta/ano

Descarte (drenagem = 20%) 

40-55 litros/planta/ano

5,5 litros/planta/ano

(0,4 litros SN + 5,1 litros água)

Professora Roberta Marins Nogueira Peil, do Departamento de Fitotecnia da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel/Universidade Federal de Pelotas (UFPel). 

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Por Gustavo Paes

Revisão e Publicação: Gabriel Costa

 

Fonte: Roberta Marins Nogueira Peil

 

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