CULTIVO DE ORA-PRO-NÓBIS HIDROPÔNICO

Os agricultores hidropônicos têm uma nova alternativa para diversificar o seu portfólio de produtos: a ora-pros-nóbis (Pereskia aculeata), uma hortaliça de porte arbustivo perene, da família Cactaceae, nativa da América Tropical. 

O nome da espécie faz referência a uma tradição popular e foi dado por pessoas que colhiam a planta no quintal de um padre que rezava em latim. O significado é “rogai por nós”. Já o nome indígena é Mori ou Guaiapá, em tupi-guarani, que significa “planta que produz frutos com muitos espinhos finos”. 

Também conhecida por lobrobó ou pereskia, a ora-pro-nóbis é considerada uma planta alimentícia não convencional (PANC) e apresenta um relevante teor de proteína – trata-se de um alimento de origem vegetal com cerca de 3 gramas de proteína a cada 100 gramas de folhas. 

Planta apresenta um valor nutricional relevante, com teor de proteína que varia de 28% a 32% na matéria seca. Conheça!

ORA-PRO-NÓBIS E QUANTIDADES ADEQUADAS DE AMINOÁCIDOS

Conhecida como “carne verde” ou “carne vegetal” por seu elevado teor de proteína e minerais, a ora-pro-nóbis assume uso tradicional significativo no preparo de comida caipira e regional “da roça” em algumas regiões de Minas Gerais e Goiás, especialmente nas cidades históricas coloniais. 

Nas demais regiões do Brasil, no entanto, apresenta potencial alimentar sub- explorado, seja na forma in natura ou processada (desidratada e moída) como matéria-prima para a indústria.

“Embora o teor de proteína seja equivalente em outras hortaliças como rúcula e agrião e também em folhas de coloração verde-escura, a qualidade da proteína da Panc é melhor porque apresenta mais complexidade e aminoácidos essenciais, ou seja, tem maior valor biológico para o organismo porque contém aminoácidos essenciais em quantidade e proporções adequadas”, explica a pesquisadora Neide Botrel, da Embrapa Hortaliças, de Brasília (DF). 

As folhas, em forma de lança, apresentam um valor nutricional bastante relevante, com teor de proteína que varia de 28% a 32% na matéria seca, sendo superior a alguns vegetais como, por exemplo, o espinafre, que tem o teor de 2,2%, conforme a Embrapa Hortaliças. 

Também apresenta quantidades consideráveis de minerais, como potássio, magnésio e zinco, mas principalmente cálcio e ferro, além de fibras e substâncias mucilaginosas que trazem benefícios à saúde. 

PLANTA POPULAR

A PANC, porém, já foi bastante popular em hortas, quintais e nas mesas dos brasileiros, mas perdeu espaço para hortaliças, legumes e verduras que são produzidos em larga escala e também podem ser encontrados com mais facilidade no mercado.  

Mas a planta vem recuperando o espaço perdido. Atualmente, ocorre produção pontual no Estado de Minas Gerais para abastecer restaurantes e feiras e produção local nos quintais, em especial como cerca viva dentro do conceito de jardim comestível. 

Observa-se o crescente interesse pelo uso de ora-pro-nóbis como matéria-prima pela indústria alimentícia, com destaque para a iniciativa da empresa Proteios Nutrição Funcional, com sede em Ribeirão Branco (SP) e que está se estabelecendo no interior do Paraná e de Santa Catarina, fomentando a produção junto a agricultores familiares em sistema de integração. 

A planta vem sendo utilizada cada vez mais em restaurantes de alta gastronomia do eixo Rio de Janeiro – São Paulo, abrindo um novo nicho de mercado. As folhas jovens e brotos podem ser consumidos crus. Em geral, ela é preparada com diferentes tipos de carnes (frango e costelinha suína). Também pode ser utilizada como ingrediente no preparo de pães, tortas, bolos, sopas, omeletes e até de sucos. 

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Uma curiosidade é que a flor da ora-pro-nóbis, que tem um sabor adocicado, também pode ser consumida como ingrediente em saladas. No entanto, é preciso cuidado para retirar as flores, já que a planta apresenta pequenos espinhos que podem machucar durante o manejo. 

A florada ocorre em um único dia, entre os meses de janeiro e abril. A vida útil das folhas de ora-pro-nóbis é relativamente longa em comparação com outras folhosas, podendo ser colocadas em embalagens plásticas e armazenadas sob refrigeração a 10°C, permanecendo em boas condições por até 12 dias. 

OPÇÃO PELA PRODUÇÃO HIDROPÔNICA DE PANCS

Normalmente, a PANC é cultivada pelo sistema convencional, no solo, mas o produtor Luiz Fernando Calderaro, de Capão Bonito (SP), preferiu investir na ora-pro-nóbis hidropônica e ampliou o mix, que agora tem quase 30 produtos diferentes. “A gente percebe um consumo crescente entre o pessoal que busca uma alimentação mais saudável”, afirma o agricultor. 

A ora-pro-nóbis começou a ser cultivada há aproximadamente um ano quando ele ganhou mudas (estacas semilenhosas, de 15 a 20 centímetros) da planta de um amigo de Minas Gerais. “Na Hidroponia, eu multipliquei as estacas usando vasos com vermiculita e fibra de coco como substrato”, explica Calderaro. São cerca de 200 pés em produção em uma área pouco superior a 300 metros quadrados.  

Para facilitar o manejo, a altura das plantas é mantida semelhante ao porte de um tomateiro. A colheita das folhas é feita com um podão, já que a espécie possui espinhos pontiagudos. Em média, 50 bandejinhas de 100 gramas são colhidas por dia. As folhas são vendidas para São Paulo e para municípios da região de Itapetininga (SP).

“Nós temos como clientes redes de supermercados como Hortimais e Fartura”, adianta. Cada bandejinha é comercializada por R$ 2,50 e o lucro só deve aumentar com o crescimento da produção. O negócio tem dado tão certo que, para o ano que vem, Luiz Fernando pretende dobrar o número de plantas cultivadas.

A ampliação, no entanto, deverá ser feita aos poucos e acompanhar a maior aceitação do produto junto aos consumidores. “Nós estamos cultivando a ora-pro-nóbis em uma área pequena e fazendo um trabalho de formiguinha, apresentando o novo produto ao cliente. 

No começo, como as pessoas não conheciam e se recusavam a comprar, tivemos de dar de presente, mas hoje já está tendo uma boa aceitação”, admite o produtor hidropônico.

 

MANEJO EXIGE CUIDADOS EXTRAS 

O manejo da ora-pro-nóbis é outro fator que precisa ser levado em consideração pelo produtor, diz Calderaro, lembrando que, por causa de sua arquitetura e dos espinhos distribuídos pelo caule, ela é usada como cerca viva em quintais e hortas. “Como a planta tem espinhos, é preciso uma mão de obra bem demorada, o que aumenta o custo de produção”, completa o empreendedor.

INFORMAÇÕES RÁPIDAS SOBRE A ORA-PRO-NÓBIS

  • A ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata Mill.), também chamada de pereskia, tem como centro de origem e diversidade a América Tropical, incluindo grande parte do território brasileiro. É uma espécie perene, de porte arbustivo, medindo 4 metros de altura ou mais;
  • Pertence à família Cactaceae, gênero Pereskia, que é considerado um ancestral primitivo dos cactos e compreende várias espécies incluindo arbustos folhosos e plantas arbóreas. É uma das únicas cactáceas que possui folhas verdadeiras e potencial para uso alimentar como hortaliça;
  • Seu alto teor de fibras ajuda no processo digestivo e intestinal, promovendo saciedade, facilitando o fluxo alimentar pelo interior das paredes intestinais. Isso evita os estados de constipação, prisão de ventre e hemorroidas;
  • Pessoas com anemia podem utilizá-la com mais frequência, pois os índices de ferro são essenciais para o tratamento desse quadro;
  • O chá tem excelente função depurativa, sendo indicado para processos inflamatórios, como cistite;
  • A alta concentração de vitamina C ajudará a fortalecer o sistema imunológico, evitando uma série de doenças oportunistas;
  • Ótima para a pele, devido à presença de vitamina A (retinol);
  • O retinol também é fundamental para a integridade da visão;
  • Mantém ossos e dentes fortalecidos, pela boa quantidade de cálcio.

CUIDADOS COM A SOLUÇÃO NUTRITIVA

Temperatura da solução, nível de oxigênio, condutividade elétrica e o pH deverão ser observados no preparo. A solução nutritiva se constitui no ponto principal do cultivo sem solo. O sucesso e o pleno desenvolvimento dos vegetais dependem principalmente da qualidade da solução, já que é dela que as plantas retiram todos os nutrientes necessários.

Uma solução hidropônica bem equilibrada, mantida e fornecida adequadamente permite um rápido crescimento e alta produtividade com maior qualidade do produto final.

Atualmente existem no mercado várias formulações de soluções nutritivas para as plantas superiores, inclusive algumas até bem específicas para determinadas culturas. A escolha de uma solução hidropônica, porém, deve levar em conta a espécie a ser cultivada, já que cada planta possui sua requisição nutricional.

“Não existe uma solução nutritiva pronta para todas as espécies. A formulação depende muito da espécie que vai ser cultivada”, afirma a engenheira agrônoma Taciana Guimaro, da Taciana Guimaro Consultoria Agronômica, de Artur Nogueira (SP). 

A especialista explica que a demanda nutricional de uma planta de tomate cultivada no sistema semi-hidropônico, em substrato, possui uma relação entre os elementos. “Uma planta de alface tem outra relação entre os elementos”, salienta a profissional, que é Consultora Hidropônica Avançada da Revista Hidroponia.

Uma vez escolhida a solução nutritiva que será utilizada, são preparadas as soluções estoques com os diversos nutrientes e, em seguida, elas são diluídas para a concentração final. 

Após a diluição devem ser medidos o pH e a condutividade elétrica (CE) da solução nutritiva. O termo pH significa potencial hidrogeniônico e diz respeito à concentração de H+ e consequentemente de OH- em uma solução. 

A faixa de amplitude de pH varia de 0 a 14, sendo que a solução com pH igual a 7,0 é neutra. Abaixo deste valor a solução é ácida e, acima deste valor, alcalina. De um modo geral, as plantas têm capacidade de ser cultivadas em uma faixa de pH bastante ampla, como seja de 4 a 8. 

No entanto, o pH ideal para a solução nutritiva deve se manter entre 5,5 a 6,5. Uma solução nutritiva fora deste intervalo faz com que a planta não absorva alguns nutrientes. A absorção dos nutrientes pelas raízes podem alterar o pH da solução, por isso é preciso diariamente medir o pH com o uso de um Peagâmetro. Se estiver alto podemos abaixar com a adição de ácidos e usar base para elevar, se for o caso.

CONDUTIVIDADE ELÉTRICA

O produtor precisa diariamente medir a condutividade elétrica (unidade de medida em mili Siemens ou MS) para verificar o nível de consumo dos nutrientes, pois é ela quem determina a quantidade de íons na solução nutritiva e, quanto mais íons, maior a condutividade elétrica.

A condutividade elétrica ideal, porém, varia de acordo com a cultura cultivada e região (clima). Em São Paulo, os especialistas indicam no caso do alface um CE de 1,5 mili Siemens/cm. A medição da condutividade pode ser feita por meio de um aparelho chamado condutivímetro.

Daí a importância de fazer análise inicial da água utilizada na nutrição, pois algumas apresentam excesso de minerais ou um pH muito alterado. A água ideal seria de um CE abaixo de 0,5 mS/cm e sais numa proporção inferior a 50 ppm, com pH em torno de 6,5 – 7,0.

Também é recomendado que o agricultor avalie o volume de água evapotranspirada e complete o volume da solução com água. O produtor deve corrigir frequentemente para valores entre 5,5 6,5. Usar ácidos 0,1M para baixar o pH (ácido clorídrico, sulfúrico, nítrico ou fosfórico) usar bases 0,1 para elevar o pH (hidróxido de sódio ou de potássio).

NÍVEL DE OXIGENIO

Na Hidroponia, o nível de oxigênio está relacionado com a temperatura da água: quanto mais fria, melhor a oxigenação. Porém, a água muito fria acaba prejudicando os cultivares. O recomendável é manter um nível de pelo menos 4 ppm de O2 na solução, e isso pode ser conseguido com o uso de venturi ou aeradores nas caixas de solução.

A falta de oxigênio pode causar o estresse das plantas e assim, fungos oportunistas como o Pythium, podem contaminar os vegetais e acabar com a produção. A oxigenação da solução nutritiva é o que garante a absorção dos nutrientes pelas raízes dos vegetais.

Temperaturas muito baixas ou muito altas podem prejudicar as plantas. A temperatura da solução deve se manter por volta dos 25ºC e não ultrapassar os 28ºC. É importante manter a solução sempre ao abrigo da luz para evitar o aquecimento e desenvolvimento de algas. 

Para evitar o aquecimento excessivo da solução nutritiva, os especialistas recomendam que o reservatório fique parcialmente enterrado ou em local abrigado dos raios solares e bem ventilado. Em regiões de muito calor, os cultivares absorvem uma quantidade maior de água do que nutrientes e é necessário trabalhar com soluções mais diluídas. 

 

QUANTIDADE DE SOLUÇÃO

Outra dica importante é a quantidade de solução. Recomenda-se que ela seja preparada com base no número de plantas que será cultivado, adotando-se como valor mínimo a relação 0,5L a 1,0L de solução por planta de alface, 3L ou 4,0L por planta de tomate. “Quanto maior a relação, melhor será o equilíbrio químico da solução nutritiva em razão do tamanho avantajado do reservatório”, sublinha Taciana.

Os nutrientes contidos na solução nutritiva vão sendo absorvidos pela planta, ainda que em proporções diferentes, de modo que haverá o esgotamento da solução. O produtor deve fazer a reposição periódica dos nutrientes.

A renovação da solução nutritiva tem de ser feita, ainda que se utilize reposição dos nutrientes na solução durante um longo período. No entanto, é discutível a periodicidade com que se deve renovar a solução, a qual vai depender da capacidade de extração de nutrientes da espécie utilizada, da relação entre quantidade de solução e número de plantas das condições climáticas no ambiente de cultivo que determinam variação o consumo de nutrientes. 

“Não é sustentavelmente adequado fazer a troca constante da solução nutritiva. A gente busca tecnicamente fazer o menor número de trocas”, ensina a consultora, que é graduada em Engenharia Agronômica pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu (SP), em 2007, e possui especialização em Gestão Ambiental pela Universidade de São Paulo (USP) – Campus Piracicaba (SP).

Em cultivo de alfaces conclui-se que a renovação da solução nutritiva pode ser feita ao final de seis cultivos, com a reposição dos nutrientes ao longo desse período realizada por meio do método da redução da CE a 50% do valor inicial. 

NUTRIÇÃO DAS PLANTAS

Existem 16 elementos que são considerados fundamentais para a s plantas. Entre os macronutrientes estão o nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S). Os micronutrientes também são importantes, mas necessários em muito menor quantidade, sendo eles: manganês (Mn), zinco (Zn), cobre (Cu), ferro (Fe), molibdênio (Mo), boro (B) e cloro (Cl). As formulações mais comuns são baseadas em diferentes concentrações de NPK. 

As diferentes espécies e variedades de plantas têm diferentes necessidades de nutrientes, particularmente nitrogênio, fósforo e potássio. A alface e outros vegetais, em que a parte comercializável é a folha, geralmente necessitam de maior quantidade de nitrogênio que aqueles em que se comercializam os frutos. 

Esses últimos, normalmente requerem maiores quantidades de fósforo, potássio e cálcio. “As necessidades nutricionais são diferentes de planta para planta e também não são as mesmas durante o ciclo. No início, a planta precisa de mais potássio durante a parte produtiva”, explica o consultor hidropônico Adriano Delazeri, da Hidroponic, de Cachoeirinha (RS).

“O uso de uma única solução nutritiva provoca deficiências nutricionais e baixa produtividade”, destaca o especialista.

O professor Pedro Roberto Furlani, sócio-diretor da Conplant, de Campinas (SP), afirma que, quando se utiliza uma única composição da solução nutritiva para o crescimento de diversas espécies vegetais que possuem relação de extração diferente, há grande possibilidade de desequilíbrio nutricional. Seja por acúmulo ou pela falta de nutrientes ao longo do período de desenvolvimento das plantas. 

O especialista ressalta, no entanto, que teoricamente cada planta, em cada região, poderá apresentar necessidades diferentes. “Quando se usa uma única solução nutritiva para o crescimento de diferentes hortaliças de folhas, pode-se antever que as plantas de espinafre e rúcula irão absorver maiores quantidades de cálcio que as plantas de agrião, alface e almeirão, para cada unidade de potássio absorvido”, declara. Se isso não for considerado na reposição de nutrientes, ocorre deficiência de cálcio para essas culturas com maior capacidade de extração, segundo ele.


Andrea Weschenfelder
Plataforma Hidroponia – Editora WEB
MTB 10594

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