A solução nutritiva se constitui no ponto principal do cultivo sem solo. O sucesso e o pleno desenvolvimento dos vegetais dependem principalmente da qualidade da solução, já que é dela que as plantas retiram todos os nutrientes necessários.
Uma solução hidropônica bem equilibrada, mantida e fornecida adequadamente permite um rápido crescimento e alta produtividade com maior qualidade do produto final.
Atualmente existem no mercado várias formulações de soluções nutritivas para as plantas superiores, inclusive algumas até bem específicas para determinadas culturas.
A escolha de uma solução hidropônica, porém, deve levar em conta a espécie a ser cultivada, já que cada planta possui sua requisição nutricional. “Não existe uma solução nutritiva pronta para todas as espécies. A formulação depende muito da espécie que vai ser cultivada”, afirma a engenheira agrônoma Taciana Guimaro, da Taciana Guimaro Consultoria Agronômica, de Artur Nogueira (SP).
Vamos conhecer neste artigo, os cuidados com a solução nutritiva, que devem prevalecer durante a produção.
DEMANDAS ESPECÍFICAS PARA CADA ELEMENTO DA SOLUÇÃO NUTRITIVA
A demanda nutricional de uma planta de tomate cultivada no sistema semi-hidropônico, em substrato, possui uma relação entre os elementos. “Uma planta de alface tem outra relação entre os elementos”, salienta a profissional, que é também, Consultora Hidropônica Avançada da Revista Hidroponia.
Uma vez escolhida a solução nutritiva que será utilizada, são preparados os estoques com os diversos nutrientes e, em seguida, são diluídos para a concentração final. Após, são medidos o pH e a condutividade elétrica (CE) da solução nutritiva.
O termo pH significa potencial hidrogeniônico e diz respeito à concentração de H+ e consequentemente de OH- em uma solução. A faixa de amplitude de pH varia de 0 a 14, sendo que a solução com pH igual a 7,0 é neutra.
Abaixo deste valor a solução é ácida e, acima deste valor, alcalina. De um modo geral, as plantas têm capacidade de ser cultivadas em uma faixa de pH bastante ampla, como seja de 4 a 8.
No entanto, o pH ideal para a solução nutritiva deve se manter entre 5,5 a 6,5. Uma solução nutritiva fora deste intervalo faz com que a planta não absorva alguns nutrientes. A absorção dos nutrientes pelas raízes pode alterar o pH da solução, por isso é preciso diariamente, fazer a medição com o uso de um peagâmetro. Se estiver alto é possível baixar com a adição de ácidos e usar base para elevar, se for o caso.
CONDUTIVIDADE ELÉTRICA
O produtor precisa diariamente medir a condutividade elétrica (unidade de medida em mili Siemens ou MS) para verificar o nível de consumo dos nutrientes, pois é ela quem determina a quantidade de íons na solução nutritiva e, quanto mais íons, maior a condutividade elétrica.
A condutividade elétrica ideal, porém, varia de acordo com a cultura cultivada e região (clima). Em São Paulo, os especialistas indicam no caso da alface um CE de 1,5 mili Siemens/cm.
A medição da condutividade pode ser feita por meio de um aparelho chamado condutivímetro. Daí a importância de fazer análise inicial da água utilizada na nutrição, pois algumas apresentam excesso de minerais ou um pH muito alterado.
A água ideal seria de um CE abaixo de 0,5 mS/cm e sais numa proporção inferior a 50 ppm, com pH em torno de 6,5 – 7,0. Também é recomendado que o agricultor avalie o volume de água evapotranspirada e complete o volume da solução com água.
O produtor deve corrigir frequentemente para valores entre 5,5 6,5. Usar ácidos 0,1M para baixar o pH (ácido clorídrico, sulfúrico, nítrico ou fosfórico) usar bases 0,1 para elevar o pH (hidróxido de sódio ou de potássio).
NÍVEL DE OXIGÊNIO
Na Hidroponia, o nível de oxigênio está relacionado com a temperatura da água: quanto mais fria, melhor a oxigenação. Porém, a água muito fria acaba prejudicando os cultivares. O recomendável é manter um nível de pelo menos 4 ppm de O2 na solução, e isso pode ser conseguido com o uso de venturi ou aeradores nas caixas de solução.
A falta de oxigênio pode causar o estresse das plantas e assim, fungos oportunistas como o Pythium, podem contaminar os vegetais e acabar com a produção. A oxigenação da solução nutritiva é o que garante a absorção dos nutrientes pelas raízes dos vegetais.
Temperaturas muito baixas ou muito altas podem prejudicar as plantas. A temperatura da solução deve se manter por volta dos 25ºC e não ultrapassar os 28ºC. É importante manter a solução sempre ao abrigo da luz para evitar o aquecimento e desenvolvimento de algas.
Para evitar o aquecimento excessivo da solução nutritiva, os especialistas recomendam que o reservatório fique parcialmente enterrado ou em local abrigado da incidência dos raios solares e bem ventilado. Em regiões de muito calor, os cultivares absorvem uma quantidade maior de água do que nutrientes e é necessário trabalhar com soluções mais diluídas.
QUANTIDADE DE SOLUÇÃO
Outra dica importante é a quantidade de solução. Recomenda-se que ela seja preparada com base no número de plantas que será cultivado, adotando-se como valor mínimo a relação 0,5L a 1,0L de solução por planta de alface, 3L ou 4,0L por planta de tomate.
“Quanto maior a relação, melhor será o equilíbrio químico da solução nutritiva em razão do tamanho avantajado do reservatório”, sublinha Taciana.
Os nutrientes contidos na solução nutritiva vão sendo absorvidos pela planta, ainda que em proporções diferentes, de modo que haverá o esgotamento da solução.
O produtor deve fazer a reposição periódica dos nutrientes. A renovação da solução nutritiva tem de ser feita, ainda que se utilize reposição dos nutrientes na solução durante um longo período.
No entanto, é discutível a periodicidade com que se deve renovar a solução, a qual vai depender da capacidade de extração de nutrientes da espécie utilizada, da relação entre quantidade de solução e número de plantas das condições climáticas no ambiente de cultivo que determinam variação o consumo de nutrientes.
“Não é sustentavelmente adequado fazer a troca constante da solução nutritiva. A gente busca tecnicamente fazer o menor número de trocas”, ensina a consultora, que é graduada em Engenharia Agronômica pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu (SP), em 2007, e possui especialização em Gestão Ambiental pela Universidade de São Paulo (USP) – Campus Piracicaba (SP).
Em cultivo de alfaces conclui-se que a renovação da solução nutritiva pode ser feita ao final de seis cultivos, com a reposição dos nutrientes ao longo desse período realizada por meio do método da redução da CE a 50% do valor inicial.
NUTRIÇÃO DAS PLANTAS
Existem 16 elementos que são considerados fundamentais para a s plantas. Entre os macronutrientes estão o nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S). Os micronutrientes também são importantes, mas necessários em muito menor quantidade, sendo eles: manganês (Mn), zinco (Zn), cobre (Cu), ferro (Fe), molibdênio (Mo), boro (B) e cloro (Cl). As formulações mais comuns são baseadas em diferentes concentrações de NPK.
As diferentes espécies e variedades de plantas possuem distintas necessidades de nutrientes, particularmente nitrogênio, fósforo e potássio. A alface e outros vegetais, em que a parte comercializável é a folha, geralmente necessitam de maior quantidade de nitrogênio que aqueles em que se comercializam os frutos.
Esses últimos, normalmente requerem maiores quantidades de fósforo, potássio e cálcio. “As necessidades nutricionais são diferentes de planta para planta e também não são as mesmas durante o ciclo.
No início, a planta precisa de mais potássio durante a parte produtiva”, explica o consultor hidropônico Adriano Delazeri, da Hidroponic, de Cachoeirinha (RS). “O uso de uma única solução nutritiva provoca deficiências nutricionais e baixa produtividade”, destaca o especialista.
O professor Pedro Roberto Furlani, sócio-diretor da Conplant, de Campinas (SP), afirma que, quando se utiliza uma única composição da solução nutritiva para o crescimento de diversas espécies vegetais que possuem relação de extração diferente, há grande possibilidade de desequilíbrio nutricional. Seja por acúmulo ou pela falta de nutrientes ao longo do período de desenvolvimento das plantas.
O especialista ressalta, no entanto, que teoricamente cada planta, em cada região, poderá apresentar necessidades diferentes. “Quando se usa uma única solução nutritiva para o crescimento de diferentes hortaliças de folhas, pode-se antever que as plantas de espinafre e rúcula irão absorver maiores quantidades de cálcio que as plantas de agrião, alface e almeirão, para cada unidade de potássio absorvido”, declara.
Se isso não for considerado na reposição de nutrientes, ocorre deficiência de cálcio para essas culturas com maior capacidade de extração, finaliza ele.
Leia mais sobre o assunto: Como destacar de forma correta os nutrientes hidropônicos
Andrea Weschenfelder
Plataforma Hidroponia – Editora WEB
MTB 10594